quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Bebê a bordo.

Hoje foi dia de dentista. Como ele gosta de mim. Há dois anos caminho para aquele consultório. Minha boca é pior que obra de igreja. Vou de mau humor, centro da cidade, oito da manhã. E vou de ônibus - sim, ainda ando de ônibus -. Eis que do meu lado senta um moça com um bebê de mais ou menos três dias. Bochechuda, rosadinha, risadinha, mas feia. Acho todo bebê feio. Eles parecem iguais e com as mesmas expressões. No entanto as mães os acham lindos! Como? Até a genética se firmar, tudo igual. Quando se firma, aí não tem jeito ou fica mais feio ou bem mais bonito.
As pessoas quando vêem um bebê se idiotizam. Verdade. Observem. Afinam a voz ( o bebê se assusta). Fazem gestos estranhos (o bebê faz cara de choro). Dizem expressões que não deveriam ser ditas nem na cama para o amante ( bebê abre o berreiro).
Esta foi a sequência de uns quatro no ônibus na Presidente Vargas, engarrafada, às sete da manhã. E o bebê - não fomos apresentados - só tinha olhos para mim. E, senti pelo olhar de raiva da vovó no banco de trás, me condenando porque eu não fazia os tais gestos e grunhidos. Falei comigo mesmo "eu vou resistir, eu vou resistir...motorista olha o ponto."
Não resiti: qual o nome? Minha voz é muito grossa. Pronto. Foi o suficiente para ele/ela abrir um berreiro e ao mesmo tempo se cagava e urinava. Agora além da vovó, mais três tias olhavam para mim como se disessem: custava afinar a voz idiota. Levantei. E a pestinha pulou no bico do peito da mãe. Ônibus só mês que vem.

3 comentários:

Bruno de Faria - Dermatologista disse...

Paulo, Lewis Carroll tem uma passagem de Alice diagnosticando um bebê que é extraordinário. Se não tiver o livro, eu tenho.

Edu Corrêa disse...

Muito bom, fiquei imaginando a cena como um filme, claro. Ri muito. Gosto de crianças, e normalmente atraio seus olhares, e às vezes faço alguma gracinha facial, sem falar nada, pra ver se tenho retorno. A merda é quando a criança não retorna! Ou, pior, quando retorna e o adulto que a acompanha fica sério, provavelmente pensando que sou um pedófilo prestes a dar o bote...

Eduardo.

Edu Corrêa disse...

Muito bom, fiquei imaginando a cena como um filme, claro. Ri muito. Gosto de crianças, e normalmente atraio seus olhares, e às vezes faço alguma gracinha facial, sem falar nada, pra ver se tenho retorno. A merda é quando a criança não retorna! Ou, pior, quando retorna e o adulto que a acompanha fica sério, provavelmente pensando que sou um pedófilo prestes a dar o bote...

Eduardo.