segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O SAPATEIRO FIEL

Vivemos em uma cidade urbana, cheia de belezas e mazelas. Não nos conhecemos, aliás não queremos nos conhecer. Quando nos conhecemos trazemos uma carga de vícios que impressionam. Nosso maior vício é a ligação com os clichês. Não queremos conhecer o outro pelo que nos apresenta de bom, ou as modificações importantes que ele pode trazer. Conhecemos o outro para apresentá-lo como vitrine. Ter alguém vitrine ao nosso lado complementa nosso ego, complementa nossas imperfeições. Someone like you. Esquecemos as pessoas pelo gestos mais simples, pelo obrigado.
Começei o ano perdendo uma aluna para uma cirurgia de estomago. Engordamos pela ansiedade da solidão, pela ansiedade de ganhar dinheiro, de ser belos e vitrines. Também perdi o sapateiro. Sim, eles ainda existem. Mas pouco os usamos, porque a ideia hoje em dia é jogar o sapato fora. Ele não é mais vitrine. Assim descartamos as pessoas que não são mais vitrine pra gente, somos descartados porque estamos ficando velhos. A experiência não é vitrine, é um objeto silencioso que só vamos entender muito mais tarde.A experiência não contempla o ego com absolutamente nada. Descobri indo ao Fashion Rio a falta que o sapateiro me faz.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

A DOR, AS DORES, UM BRINDE

Quase sempre quando vou caminhar na praia encontro um senhora X, aparentando oitenta anos, na sua cadeira de rodas. E a sua gorda enfermeira a empurrar a cadeira, sem nem saber porque está ali. E ela me olha. Sempre. Ela é quase um vegetal, no entanto ela me olha. E no seu olhar vem a frase fulminante " me mata". Passo a correr, não mais a andar, porque concordo com ela.
Aprendi a gostar de filosofia vendo os episódios inocentes de "Além da Imaginação", onde concebia conversar com a alma e o espírito de outras pessoas. Num desses episódios tinha uma frase que me assombra até hoje os sentidos "tudo o que você está deixando para trás é a solidão". Ao expurgar as dores físicas e mentais esvaziamos a sensação de solidão. Na sexta fui a um bar conversar sobre as minhas dores e sobre a situação que havia provocado as dores. Não é a outra pessoa que que provoca a dor. Na realidade talvez a pessoa nem interesse mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”. Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância.
E no bar, diversas senhoras X tinham aquele mesmo olhar. Comentei isso e recebi um forte reprimenda de que não existe prazo de validade para a felicidade e para se viver.
A vida é uma loteria - não é a toa que os jogos são chamados de imposto dos estúpidos - e sempre perdemos para a casa ou para a banca. Quem é a banca? Estamos sempre apostando nas relações, nos empregos, no dinheiro e deixando tudo para a banca. "Ou, então, talvez seja possível amparar a verdade, preservá-la de nossas próprias motivações. Podemos, por exemplo, desconfiar de nossas idéias, sobretudo quando nos sentimos particularmente satisfeitos com o entendimento da realidade que elas nos proporcionam. Pois a verdade (com o curso de ação que, eventualmente, ela "impõe") é geralmente pouco gratificante e de acesso trabalhoso". A própria morte das senhoras Xs resolve um conflito interno insolúvel entre a ideologia de viver e a emoção. Um brinde as dores.

quinta-feira, 30 de setembro de 2010

PARA SE PENSAR

RIO DE JANEIRO - Desconfio de que já contei esta história em crônica muito antiga, mas de forma incompleta. Agora, com a proximidade das eleições, acredito que ela deva ser relembrada.
O escritor Álvaro Lins foi editorialista do "Correio da Manhã", chefe da Casa Civil na Presidência de JK e embaixador em Portugal, onde, aliás, criou um caso internacional dando asilo a um adversário do regime salazarista. Muitos o consideram o crítico literário mais completo do Brasil. Sua entrada na Academia Brasileira de Letras foi uma noite memorável, pois chegou atrasado duas horas para a cerimônia.
Em Lisboa, ele decidiu visitar a Suíça, sendo ali recebido com todas as honras. Na manhã do seu primeiro dia em Genebra, depois de ler os jornais locais, deu um giro pela cidade em companhia de um funcionário do governo. Andou pelas ruas, de carro e a pé.
Em dado momento, comentou: "Li nos jornais que hoje é dia de eleições gerais. Mas não estou vendo nenhum movimento especial, nenhuma fila, nenhum posto eleitoral...". O funcionário explicou: "Senhor embaixador, hoje, realmente, é dia de eleições gerais, e elas estão se processando normalmente". "Mas como? Não vejo nenhum movimento... nenhuma fila... parece um dia qualquer...".
"Não precisamos de filas. Cada quarteirão tem uma urna em local determinado. O eleitor chega e deposita sua cédula. À meia-noite, as urnas são recolhidas e, no dia seguinte, o resultado é proclamado."
Álvaro Lins ouviu, abaixou a cabeça, pensou um pouco e perguntou: "Mas digamos... um eleitor pode depositar na mesma urna ou em outras muitas cédulas de um só candidato, dez, vinte... cem... e aí como é que fica?"
Foi a vez de o funcionário suíço ficar espantado:
"Mas senhor embaixador, quem faria isso?

Carlos Heitor Cony - Folha de São Paulo 30/09q2010

domingo, 26 de setembro de 2010

EXPLICA


O QUE FAZ UM BOQUETEIRO???? NO GOOGLE SÓ DÁ O QUE A GENTE JÁ SABE

terça-feira, 13 de julho de 2010

MONEY MAKES A WORLD GO ROUND

Não eu não quero comentar sobre o caso do goleiro. Eu quero pensar sobre o que gira a vida dessas e de outras pessoas. Senão vejamos. A amante infernizava a vida do goleiro por dinheiro, merreca, mas infernizava. O goleiro queria ir para fora porque duzentos mil é pouco. Os amigos do goleiro não trabalhavam, não faziam nada, apenas cercavam o goleiro por dinheiro. O clube pagava bem ao goleiro porque assim entra mais dinheiro, já que o time provavelmente não perde com um bom goleiro. A mãe da amante pegou rapidamente a criança, porque ali tem um futuro promissor (tradução herança=dinheiro). Os delegados parecem estrelas de Hollywood dando entrevista, talvez porque vejam uma candidatura (o povo é que pediu) e melhorar o salário. As novas amantes do goleiro eram sustentadas pelo goleiro e antes tinham sido sustentadas por outros. Um técnico volta ao Brasil, ganhando setecentos mil por mês; Presidente, em vez de assinar uma lei que proíbe as crianças de levar palmadas (sic!), (que liberdade é essa?), porque não pensar uma lei que limite os salário, não o mínimo, mas mo máximo (não me venham cobrar liberdade, eles querem censurar veículos de comunicação)

Enquanto isso um grupo de deputados - como Brasilia gira sobre dinheiro - (evangélicos) sugere projeto lei que homossexuais sejam proibidos de adotar crianças. Se o tal goleiro tivesse sido educado por homossexuais, ou seja, tivesse amor e carinho de um lar, talvez seu mundo não girasse em torno do dinheiro. Este mesmo goleiro que levantava os olhos para o céu evangélico (sim, porque lá só residem evangélicos, todos os católicos, ubandistas e budistas vão para o inferno) agradecendo mais uma vitória do seu time.
O que tem de ser repensado não as relações, mas a relação que temos com o dinheiro. Se ele não fosse mais parâmetro para conquistas, muita coisa seria diferente. Mas, pensando bem vou sugerir um cartão de crédito com nome "eu te amo". Assim facilita tudo.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

DE MORRER DE RIR

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

(RUIM) DO COMEÇO AO FIM

Criticar o trabalho dos outros é muito chato, até porque tenho trabalhos como publicitário muito ruins (colocamos a culpa no cliente). Mas fui assistir uma pré-estréia de um um filme nacional, DO COMEÇO AO FIM (por engano, cancelaram Coco Channel para esta pré-estréia). Sempre atribuo o sucesso de um filme ao seu roteiro. Não existe bom diretor que faça milagre de levantar um roteiro ruim, mas um péssimo diretor pode estragar um bom roteiro. Infelizmente o filme não tem roteiro. É apenas um grande clipão gay de cenas soltas, sem nexo, pé ou cabeça. Ou na linguagem dos roteiristas não tem começo, meio e fim, e ligando estas partes, não necessariamente nesta ordem, o drama. Drama é o que nos dá identidade como ser humano, que nos faz trocar empatias, simpatias e antipatias. Os gays vão até elogiar. Os atores são bonitos, jovens, fogem a clichê habitual de gays afetados, mas saíram do cinema soltando cobras e lagartos.
O melhor papel do filme, que poderia criar uma forma de antagonismo, o roteirista/diretor mata. Acho que todos os roteiristas de novela deveriam criar roteiros de cinema, obrigatoriamente. Não que as novelas sejam um primor, mas ninguém como eles sustenta um drama por mais de duzentos capítulos. Ou seja, uma hora e meia é fichinha.
Fico aborrecido. Imagine o esforço, o trabalho dos atores, produção, edição para ser um fracasso de bilheteria? Mas que filme ruim.