sábado, 26 de abril de 2008

A AUSÊNCIA

De todos os sentimentos a saudade talvez seja a mais difícil de lidar. Eu não consigo lidar bem com ela. Choro muito pelos que se foram, sinto falta daqueles que não deveria sentir. Confundo sentimentos. Sofro, sofro, pior que novela mexicana. A saudade está ligada diretamente com a arte de perder. Perdemos tantas coisas pelo caminho que esquecemos que não suportamos perder. Perder o jogo, perder o amigo, perder o amor...a chave ah! a chave — Mesmo perder você (a voz, o riso etéreo, a bochecha apertada que eu amo) não muda nada. Pois é evidente que a arte de perder não chega a ser mistério por muito que pareça.
Drummond escreveu este poema para uma pessoa aquela que deixou a vida e o abandonou. Eu replico com a licença do poeta para aqueles que me abandonaram e continuam na vida.

A um ausente
Tenho razão de sentir saudade, tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompestee sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência de viver e explorar os rumos de obscuridade sem prazo sem consulta sem provocação até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora. Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.

Que poderias ter feito de mais grave do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousarporque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,simples apertar de mãos, nem isso, voz modulando sílabas conhecidas e banais que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste o não previsto nas leis da amizade e
da natureza nem nos deixaste sequer o direito de indagar porque o fizeste,
porque te foste.

Um comentário:

Bruno de Faria - Dermatologista disse...

"Viver é perda" - frase de minha avó de 92 anos. Papai acha que ela ficou fria com o tempo. Eu acho que ela apenas viveu.