Vou reproduzir - com a licença - a coluna do Rui Castro na Folha de São Paulo, sábado, 14/02 e do Quino a charge aí ao lado.
O jornal impresso é uma mídia física. E, como todas as mídias físicas, corre sério perigo. Nem o tubarão australiano Rupert Murdoch quer mais "imprimir sobre árvores mortas", como ele ingratamente disse. O jornal do futuro será um celular a ser levado na palma da mão, inclusive para o banheiro, que sempre foi o melhor lugar para ler jornal.O livro também é uma mídia física. E, como tal, igualmente está com as barbas de molho. Para o seu lugar, já existe o (por enquanto, só nos EUA) Amazon kindle, um leitor de livros eletrônicos do estoque invisível da Amazon, a famosa loja virtual. A engenhoca "baixa" milhares de títulos, do pioneiro "Le morte d'Arthur", de 1485, ao último escritor afegão, irlandês ou africano inventado pelas editoras.O CD também é uma mídia física, e já quase em estado ectoplásmico. Ninguém mais pensa em comprar discos. Com dois toques num aparelhinho, a música que você quer surge de uma discoteca no espaço e penetra para sempre no seu iPod, indo fazer companhia às 180 horas de música que você já armazenou e que, um dia, pretende ouvir, todas de uma vez. E o DVD é outra mídia física em avançado estágio de decomposição. Assim como se "baixam" músicas, "baixam-se" filmes, legal ou ilegalmente -de "A Vida de Cristo", de 1904, ao último Woody Allen, que ele ainda nem terminou de filmar-, para ser vistos numa telinha de três polegadas. Se você for monoglota, o pirata "baixa" as legendas em português, e estamos conversados. De repente, concluo que, como o jornal, o livro, o CD e o DVD, eu também sou uma mídia física. Donde, como eles, candidato à extinção. Talvez um dia me transforme num espírito puro, virtual. Mas, se puder escolher, vou preferir impuro -não sei se a vida apenas virtual tem essa graça toda.
Eu sou publicitário e o texto me fez pensar o quanto somos mídias físicas, o quanto a publicidade depende disso. Vejo alguns alunos com algumas traquitanas nas mãos que me humilham e me dizem: você é um candidato a extinção também. Plagiando a Mafalda "abaixo o mundo virtual."
3 comentários:
Mas isso talvez isso seja um exemplo do famoso "choque de gerações". Pra gente que tem mais de sei lá quantos anos (eu tenho 38) esse mundo virtual parece tão abstrato, às vezes. No entanto pra minha sobrinha de 11 e pra toda uma geração (acho até que mais de uma) todo esse mundo virtual é tão físico quanto são os discos, livros e jornais pra nós. Pra eles, esse "mundo virtual" não é "virtual", é simplesmente "o mundo".
Dizem que a gente percebe que tá ficando velho quando começa a resistir as mudanças, ou a reclamar delas, ou a simplesmente não entendê-las. Nesse sentido, eu já tô ficando velho, pois nunca sequer baixei um filme pela internet (Download? O que é isso?) e até pra baixar alguns episódios de um seriado tive que pedir ajuda da minha sobrinha...
Li essa frase hoje e lembrei dessa postagem:
"Tecnologia é o truque de arranjar o mundo de forma que não o experimentemos." (Max Frisch)
ave corpus; eu, como papirófobo nato, sou suspeito para opinar; papéis sempre me fizeram espirrar e as telas luminosas são (?) livres de ácaros, ao menos até que surja uma espécie mutante de ácaros (surgirá na novela da Record, certamente), devoradores de pixels.
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