Matei. Sim confesso matei pela primeira vez. Foi uma pomba, mas foi. Espero que ninguém ou nada estivesse incorporado nela.
Ela tentou voar, mas como eram oito da manhã, meio sonolenta bateu no protetor do carter e foi para baixo do pneu dianteiro direito, do meu lado, para ficar mais dramático. Girando, girando.
Se somos todos espíritos e voltamos em qualquer corpo vivo, tinha alguém ali. Fico imaginando quem poderia ser e como vai voltar.
"A dor maior da morte é não morrer de verdade. Morrer aos poucos. Assim como algumas coisas morrem muito lentamente na vida da gente; A primeira pessoa que ocupou aquele corpo sentiu uma dor terrível. Uma dor de amar e de perder. E ela seguiu amando, achando que a relação termina e a gente, seguindo amando, tem que se acostumar com a ausência do outro, com a sensação de perda, de rejeição e com a falta de perspectiva, já que ainda estamos tão embrulhados na dor que não conseguimos ver luz no fim do túnel.
Quando enxergou a luz no fim do túnel veio a outra dor, a de que temos agora um ritual de despedida. Podemos esvaziar o coração, de remover a saudade, de ficar sem sentimento por outra pessoa(pombo).
Isso doeu mais ainda e ela quis sair desse corpo de pomba e ser um cachorro no qual o sexo é por instinto. A gente (eles) saem cheirando, cheirando e pronto. 5 segundos depois tudo passou
A pessoa que a deixou, a fez morrer e virar pomba, já não interessa mais, mas interessa o amor que sentíamos por ela, aquele amor que nos justificava como seres humanos, que nos colocava dentro das estatísticas: “Eu amo, logo existo”. Despedir-se de um amor é despedir-se de si mesmo. É o arremate de uma história que terminou, externamente, sem nossa concordância.*
Mas aquele corpo precisa sair de dentro da gente. E foi assim que mais um espírito saiu em busca de outro corpo. A pomba anônima me fez ver que a pessoa que estava bem ao meu lado não existe mais. Era apenas a expressão do meu desejo de ser.
*com a licença poética do Rodrigo
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Há 8 anos