quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

MADONNA E O PAPA OU A AERÓBICA DA INDÚSTRIA CULTURAL

Lembro da primeira vez que João Paulo II veio ao Brasil. Emocionante, um milhão de pessoas no aterro do flamengo. Por onde passava arrastava multidões. Já na segunda visita, para reunir cem il na missa foi duro. Foi preciso uma ampla campanha publicitária. A primeira foi uma visita de um olimpiano - expressão cunhada pelo sociólogo Edgard Morin - O que leva a criar estes seres imaginários? Olimpianos e alimpianas são sobre-humanos no papel que eles encarnam na imaginação do público mas humanos na existência privada que eles levam e que é tão devassada pela curiosidade alheia. A imprensa age de duas formas: ao mesmo tempo em que os coloca num altar mitológico, mergulha em detalhes de suas vidas privadas a fim de extrair delas a substância humana que gera a identificação com seus “devotos”. Têm assim natureza humana e sobre-humana . Morin acrescenta : “um Olimpo de vedetes domina a cultura de massa, mas se comunica , pela cultura de massa , com a humanidade corrente”. Essa dupla natureza, a divina e a humana, circulam entre dois pólos – projeção e identificação. Eles realizam os sonhos que os mortais não podem realizar e os chamam para realizar o imaginário. Ao conjugarem a vida cotidiana e a vida olimpiana, os olimpianos se tornam modelos de cultura no sentido etnográfico do termo , isto é: modelos de vida.

Passei por este estado olimpiano na primeira visita de Madonna. Fui dormir na fila, fiquei no gargarejo e assim como outros pensava na pop-star acima do bem e do mal. Pois bem, segunda visita ao país e já começei questionando preços, depois o imbroglio das vendas pela internet da empresa promotora. Tudo me aborrecia e finalmente, depois de muito tentar, claro, surgiu um convite para um camarote de uma empresa aérea (não faço merchan). Lógico que fui, tentando me animar. Ao lado de onde fiquei o camarote de uma loja de roupas e outro de empresa de telefonia celular. ( A diva perguntou "o que era camarote" e porque só no Brasil existia isso") Os olimpianos daqui conversaram o show inteiro, (no imaginário eles podem) a diva desafinou, o microfone falhou e finalmente, humanamente, ela escorregou...
Assim como o papa os ingressos sobraram, no jantar do papa não apareceu um só chefe de estado que esperavam. Na festa da Madonna, no Fasano, sentada em uma cadeira-trono, só se aproximava dela quem a assessora de imprensa chamava. Ronaldinho e Jesus Luz. Somente.

O que é que eu estou fazendo aqui no inferno de Dante, Jesus.

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

NADA EM NOVEMBRO

Em novembro não publiquei nada. Não, não é preguiça. Falta de tempo, trabalho. Muito. Hoje eu observei um comportamento diferente. Antes cético, agora leio o horóscopo todos os dias. E de vários jornais. Por mais que uma amiga diga que aquilo é escrito pelo boy do jornal o que importa é tentar prever o futuro. Mesmo que ele nao exista. Eisntein disse, acho que foi ele, que se conseguissemos ver o futuro viveríamos num eterno passado.

Sobre isso que gostaria de escrever hoje, a nossa mania de querer desvendar o futuro. Se vamos envelhecer, quando vamos morrer, de quê vamos morrer, se teremos dinheiro para aproveitar a aposentadoria ou se dará apenas para comprar os remédios. A Barbara, da Folha, diz hoje que eu tou inspirado, comunicativo, persuasivo e carismático. Obrigado, são quase sete da noite e vários destes sentimentos não apareceram.

José Saramago (Nobel de Literatura) observou que " Todos sabemos que cada dia que nasce é o primeiro para uns e será o último para outros e que, para a maioria, é so um dia mais.

Não é que ao virar a página e olhar a última folha do mesmo jornal vejo a seguinte crítica " Saramago é um escritor irregular e suas piores obras são feitas pra deslumbrados iletrados"

Este pobre iletrado aqui leu a critica toda de um tal Coutinho, na Folha, e ao final ele só elogia o escritor e o novo livro. Deve ser alguma nova técnica de resenha que não aprendi. Diz que o novo livro Viagem do elefante é a obra-prima do autor(sic!) Se ele escreve para iletrados como pode existir uma obras-prima na sua obra? Lógica do tinhorão.

Como quero morrer iletrado e sem saber meu futuro.